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UM SENHOR CHAMADO BRASIL

Rolando Boldrin prepara espetáculo baseado em biografia e ganha personagem especial no filme de Selton Mello

1 de setembro de 2017

O primeiro espetáculo baseado na vida de Rolando Boldrin, 80, foi escrito em 1978, por Plínio Marcos (1935-1999). “Longe de Casa, na Terra do Desconsolo”, um monólogo dividido em três atos, jamais saiu do papel. No entanto, deu o start para que Boldrin investisse, três anos mais tarde, no formato em que conversa com a plateia, conta causos e recebe convidados. A sugestão do programa transmitido há mais de uma década pela TV Cultura com o nome de “Sr. Brasil”, e cujo início data de 1981 na Rede Globo (“Som Brasil”), também veio do autor de “Navalha na Carne”, “Dois Perdidos Numa Noite Suja” e “Barrela”.

“Plínio foi meu colega quando comecei na TV Tupi, a gente era figurante. Ficamos grandes amigos e viramos também companheiros de luta durante a ditadura militar”, recorda Boldrin. A amizade com Plínio e outros encontros marcantes estão retratados em “A História de Rolando Boldrin – Sr. Brasil” (ed. Contexto, 224 págs., R$ 45, em média), biografia recém-lançada escrita a quatro mãos pelos jornalistas Willian Corrêa e Ricardo Taira.

A partir do livro, o sonho iniciado na década de 70 de levar sua vida para a cena finalmente vai tomar forma. A peça “Rolando Boldrin, a História do Sr. Brasil” estreia sábado (12) em São Paulo, e, se depender do paulista de São João da Barra, deve passar por Belo Horizonte. “Realizei esse espetáculo com um dos meus biógrafos, o Willian Corrêa. Tem música, poesia, causo, lembranças muito bonitas que guardo e pude relembrar, e agora vou dividir com meu público. Espero correr com esse dito-cujo por todo o Brasil. É a minha história de vida, conta o que eu vivi, mas também diz muito do país”, justifica Boldrin.

Encontros. Um dos episódios presentes tanto no livro como na peça ocorreu em pleno 1º de maio, Dia do Trabalhador, na praça da Sé, em São Paulo. Era o ano de 1969, e Boldrin acompanhava Plínio, que chegou a subir ao palanque. A certa altura, Boldrin estranhou a ausência de policiais. Cismado, alertou o dramaturgo a ir embora. “Isso aqui não está me cheirando bem”, teria dito. Não demorou, e a praça virou palco de um confronto, com policiais à paisana. Sempre que tinha oportunidade, Plínio contava a história, dizendo que Boldrin era seu “segurança pessoal”.

Outros que aparecem na biografia devem estar no show. É o caso de Adoniran Barbosa (1910-1982). O compositor de “Trem das Onze” e “Saudosa Maloca” se tornou parceiro musical de Boldrin, tanto ao longo da vida, como de maneira póstuma. Um ano depois da morte do amigo, o apresentador registrou “Provérbios” que, como se supõe pelo título, enumera algumas verdades a serem seguidas, do tipo “pão de ló não deve dar/ pra quem dentes não tiver”. Na abertura da canção, Boldrin, após sonora gargalhada, manda o recado.

“Esse é um samba ‘deferente’, meio ‘caipirado’. Qualquer semelhança da melodia com algum pagode, principalmente do mestre Martinho da Vila, não é mera coincidência, é propósito mesmo. Como só existia a letra no baú do meu ‘cumpadi’ Rubinato, vulgo Adoniran Barbosa, logo depois que ele viajou fora do combinado falaram para eu colocar a melodia e tascar no meu disco que ia ser um sucesso”.

Na publicação, Boldrin revela que Adoniran “estava sempre de mau humor, era ranzinza e a frase que mais usava era ‘não enche o saco’”. Hoje, o apresentador olha para o futuro sem esquecer sua história. “Estamos no caminho da evolução tecnológica, e temos, como artistas, de nos adequar a esta técnica, mas com a nossa verdadeira essência brasileira. Nada de música importada”, defende.

Cinema. Não é somente à frente do “Sr. Brasil” (que a Rede Minas exibe nas manhãs de domingo), em cena no teatro ou como tema de livro que Boldrin tem exercitado seu talento. Atualmente, tem chamado atenção em “O Filme da Minha Vida”, longa de Selton Mello em cartaz nos cinemas. Mello já havia convidado Boldrin para atuar em “O Palhaço” (2011), mas o apresentador declinou.

Agora o ator e diretor conseguiu o que queria. Boldrin dá vida à Giuseppe, um maquinista que conduz o “trem” da história, no farto sentido dado à palavra em Minas. “A narrativa é muito bonita e humana. Esse personagem foi criado especialmente para mim. Dessa vez cedi à insistência do Selton em me ver no ‘telão’ de novo e não me arrependo, foi um prazer trabalhar sob a direção de um jovem com grande talento como ele”, elogia o paulista.

 

PUBLICADO EM 12/08/17 – 19h20
Jornal O Tempo

 

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